segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Existe amor no teatro feito em BH

Quando a princesa exclama, num domingo de sol, às 15 horas, sentada à uma mesa de boteco, que precisa trabalhar e que ama isso, é hora de os súditos refletirem. Entre Julietas e princesas, uma verdade é clara: está cheio de amor o teatro feito em Belo Horizonte. Não que não tenha nas outras cidades, mas o que importa para nós é a capital do uai.

É com amor que essa turma que preenche os palcos da cidade trabalha. É com amor que eles enfrentam figurinos, plateias sedentas, textos complexos ou não e aceitam o desafio de fazer arte, ou seja, emocionar, o que é um terreno dos mais acidentados possíveis, abstratos. É aí que está o amor.  

O amor está em dar e correr o risco de não receber. Está em abrir mão de si mesmo e se personificar em almas alheias, reais ou fictícias. De ver tudo com os olhos da arte. De abrir mão de domingos no boteco para ir trabalhar sorridente e satisfeita, em êxtase. De querer atuar e atuar mais, não importa o quão desgastante foi, afinal a próxima performance pode ser melhor. De abrir mão da coroa e do Romeu.  

Do artista espera-se a esperança, mas também a dor, o desapontamento. Espera-se alegria, intensidade e tristeza. Espera-se que ele grite, que ele mate, que ele morra ou monte nas costas de um jumento e se deixe levar. Os simples mortais acompanham os passos da arte, como se participassem dela. Mas como assim? Os simples mortais são a alma da arte, o motivo da arte.

Neste terreno não existe vencedores e vencidos, não existe gregos e troianos, romanos e otomanos. A Constantinopla está no furor, no sangue que você sente correr, na angústia de não ter o que dizer e na falta de preocupação em ter hora certa.

Pois é assim: sentir o tapa na cara da princesa e trabalhar com amor é tarefa difícil. Acompanhá-la pode ser um paliativo mais próximo e eficaz. O que importa nisso tudo é o que se vive na hora, não o que se absorve. Ninguém sabe se está aprendendo ou ensinando, os dois ao mesmo tempo ou nenhum dos dois, e nem deve saber. O importante é viver e perceber a vida. Existe muito amor no teatro feito em Belo Horizonte, é preciso reconhecer isso.

4 comentários:

  1. Oi Gustavo, gostei muito do que li, principalmente os dois últimos posts. Vou recomendar aos meus amigos...Boa sorte. Seu texto é muito gostoso de ler. Vá em frente!!!
    Beijos
    Heloisa Aline

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  2. Dava para viver a mesma vida besta sem sentir, mas, para alguns, a percepção é a vida e o que nos tornamos é um estado de qualquer coisa que ama. As outras coisas não são nada mais do que as outras coisas, a arte, o teatro, é o que sou. Valeu Gu, pelo belo texto! João

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