terça-feira, 15 de novembro de 2011

O vagabundo mais dedicado que já existiu

Emotivo, como um garoto, mas não inocente. Sensível, como nunca fora um grande ditador. De vagabundo, nada. Aliás, tudo. Sua obra-prima, que lhe rendeu a maioria dos louros. Correr atrás do ouro, ele correu. Do ouro e das menininhas, que muito aprenderam com ele, mas também lhe ensinaram. Chaplin gostava de dinheiro, de fazer bons negócios e de meninas novas. E, claro, de fazer pessoas rirem. Dizem que ele não gostava tanto do comunismo como pintaram. Só não gostava do capitalismo, e de religiões. Não que se achasse acima delas, mas não se aproximava, não considerava necessário.

Nos tempos modernos, provavelmente, enxergariam Chaplin assim como o enxergaram nos tempos idos, premiados com sua existência: emblemático, autêntico, criativo, artista, provocador, ambicioso e galante. Um gênio. Dos maiores de todos os tempos, modernos ou não.

O vagabundo era seu alter-ego, diziam. Um rapaz descompromissado, leve, que gostava da vida como ela era, sem muitas aspirações. Sentia os frescores e os dissabores da mesma forma, de passagem. Chaplin não era assim. Era mais “pesado”, mais centrado e mais focado, muitas vezes características que o levaram a caminhos ruins, como separações e até imbróglios diplomáticos. Ele não teve vida de cão. O vagabundo também não. Chaplin preferiu manter-se neutro até o fim da vida. Por isso deve ter escolhido a Suíça para morrer.

Quando foi expulso, ou melhor, impedido de retornar aos EUA, aos capitalistas EUA, que perseguiam comunistas como nunca, Chaplin foi aclamado pelos soviéticos. Mas ele não aclamou os soviéticos. Mas também não os ofendeu. Nem os americanos. Neutralizou-se. Procurou passar os últimos anos em paz. Mas em guerra ou não, o reconhecimento, tardio, veio, e ele soube recebê-lo e reconhecê-lo. Já em tempos modernos.

Quatro esposas oficiais, várias namoradas, duas que ficam entre namoradas e esposas, a mulher de Paris e a mãe de sua filha bastarda, Caroline, onze filhos legítimos, alguns amigos, uma mãe problemática, um pai alcoólatra, um irmão dedicado, parceiros e parceiras, inimigos, não muito fervorosos, e uma legião enorme de admiradores, que se espalham aos quatro cantos do mundo até hoje. Este é o legado de Chaplin, o que está por trás de toda a sua arte, de seus filmes, de suas músicas, de sua genialidade artística.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O rock e o samba

Soa os acordes da guitarra, pessoal de preto, a maioria, alguns com bebidas nas mãos, coisa que às vezes nem dá para saber o que é. Entrada frenética para ver os dinossauros. A letra a minoria entende, a maioria não, mas vibra. No menor grito, sem suspiro, a galera grita, estremece, pula, pede mais, olha para o lado e grita de novo, levanta as mãos. Show de rock rolando, da banda que pode não ser a sua preferida, mas você gosta, e gosta de gostar.

Sai de lá, atravessa a rua e depara com um lugar meio escuro, ou meio claro,  depende do ponto de vista. Dá para enxergar quem está ao lado, em frente e atrás, mas não se enxerga muito bem. A música é diferente, o pessoal participa mais de perto, quase sobe ao palco. Quem não gosta, bom sujeito não é. A letra, dá para entender melhor, e a gritaria é menor. A dança é com menos pulos e mais pra lá e pra cá. As pessoas se misturam mais, mas também olham para o lado. Gritar não, sussurrar sim. Show de samba rolando, da banda que pode não ser a sua preferida, mas você gosta, e gosta de gostar.

Está aí o que é importante: gostar. Mais importante: gostar de gostar. Você atravessa a rua de novo, entre a cruz e a espada. Entre entender e não entender. Não importa mais, você gostou, e gostou de ter gostado. Pode ir pra casa, pode tomar a saideira, pode conversar na porta de algum lugar, pode fazer o que quiser, mas você gostou, e amanhã vai se lembrar disso, e gostar de lembrar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A manhã movimentada

Na manhã de um dia morno,
um menino mameluco
mostrou a magnitude de sua mente.
Mesmo maltratado e malquisto,
o moleque montou na motinha do Marcelo e,
mancando, foi para a Mercearia do Matias.
Motivo: montar um mamulengo.
A mãe do menino ministrava um momento de meditação e,
sem medo, não matutou sobre o marasmo da manhã.