Ok,
concordo com meus professores de literatura e com minha psicóloga: não pretendo
ficar preso ao passado, nem ansioso pelo futuro e acredito que as coisas
acontecem realmente no presente. Mas, atire a primeira pedra quem não gosta de
relembrar as peripécias pretéritas, com um gostinho que cada um sabe a delícia
que é. E, convenhamos, ninguém vai ser colocado em camisa de força por isso,
nem vai perder o fio da meada por recuperar um pouco do que já foi e por que
caminhos andou.
Quando
a gente pensa em presente e passado (o futuro ao futuro pertence), quase nunca
consegue definir onde acaba um e começa o outro. Onde está a linha divisória?
Até quanto para trás ainda é presente? Talvez no momento em que sua vida está
como agora. Talvez não. Eu procuro na memória quando combinamos de não nos
encontrar mais. Que dia nós, que nos víamos em quase todos, acordamos que não
iríamos nos ver mais? Não me lembro.
Deve
ter sido no dia em que você se mudou para o interior, ou ainda quando se mudou
para o exterior. Ou no dia em que não se mudou, mas que mudou... de amigos, sem
a gente nem perceber, ou talvez no dia em que fez besteira – nós não éramos
mais crianças e no mundo adulto as besteiras têm consequências mais graves. Lembra-se
do futebol na rua? Que dia combinamos de não jogar mais? A gente se via,
conversava, brincava, se divertia por três, quatro vezes por semana, nós e mais
todos, hoje não vejo ninguém.
E
as meninas? Não querem mais jogar nada ou saírem para tomar um sorvete ou comer
um sanduíche? Parece que não, uma tornou-se professora, a outra médica, as
outras não sei. E daí? Casaram, namoraram, arrumaram outros amigos que não se
entrosam com os velhos, na maioria das vezes por opção do próprio em comum...
mas que dia combinamos de não nos encontrar mais?
Exagero,
às vezes nos encontramos ainda. Raramente, as conversas são longas. Na maioria
das vezes, um “oi” basta. Às vezes nem sabemos por onde anda e qual o rumo que
a vida tomou. Antes sabíamos de cada passo um do outro. Está tudo certo, a vida
é assim mesmo, a gente caminha para lados diferentes. Mas por quê? Quando
combinamos isso? Um abraço forte...